O fenómeno conhecido por “bullying” pode definir-se como um ataque, ou estar correlacionado com expressões como: “abusar dos colegas, vitimizar, intimidar”.
Bullying é um termo inglês utilizado para descrever actos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully ou "valentão") ou grupo de indivíduos com o objectivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender.
De acordo com Susana Carvalhosa o bullying na escola define-se do seguinte modo: um aluno está a ser provocado/vitimado quando está exposto, repetidamente e ao longo do tempo, a acções negativas da parte de uma ou mais pessoas (Olweus, 1993). Considera-se uma acção negativa quando alguém intencionalmente causa, ou tenta causar, danos ou mal-estar a outra pessoa. Esse repetido importunar pode ser físico, verbal, psicológico e/ou sexual.
Com maior incidência nas áreas urbanas e suburbanas apresenta uma série de tipologias.
A mais comum entre os rapazes é a agressão física: bater, pontapear, empurrar, tirar objectos pessoais, mas poderão ser ofensas verbais ou mesmo atemorização.
Actualmente verifica-se a incidência de outro tipo de “bullying”: ameaças por telemóvel, por “e-mail” e nos “chats”.
Pode traduzir-se em atitudes como o “gozar”, “chamar nomes”, “troçar”, “fazer comentários ou gestos ordinários e/ou piadas sexuais”
O bullying pode também assumir-se como exclusão social: não querer a participação de um colega no grupo, não lhe falar, discriminá-lo ou humilhá-lo,
Pode ainda assumir formas indirectas de violência, como espalhar boatos maldosos, mentiras divulgar segredos ou fazer chantagem.
Entre os factores que podem ser apontados como exemplos para recorrer a práticas de intimidação podemos elencar:
Factores de risco – como ter uma personalidade facilmente irritável, ser agressivo e insatisfeito.
Factores familiares – gozar de elevado prestígio social, sentirem-se impunes, ou o prestígio social ser negativo e querer conquistar afirmação.
Nas situações de bullying os elementos participantes desempenham diferentes papéis:
Ø Vitimas – caracterizam-se por serem passivas ou agressivas/provocadoras (se tentam retaliar quando são atacadas) consoante a sua posição face à situação.
Ø Intimidadores – nesta posição estão os líderes (os que tomam a iniciativa) e os seguidores (que seguem essas iniciativas ou que desempenham o papel de agressor comandados pelos lideres)
Ø Reforçadores – incentivam os intimidadores e gozam da vítima entre este grupo podemos também enquadrar as testemunhas que silenciam e se afastam.
De acordo com a teoria dos sistemas ecológicos, como Bronfenbrenner, o desenvolvimento humano ocorre num conjunto de sobreposições de sistemas ecológicos e foca o relacionamento de um indivíduo dentro do seu contexto social.
Alterações ou conflitos em qualquer sistema terá um efeito em todos os outros sistemas. Baseado nesta teoria, o bullying é visto como um fenómeno que afecta o desenvolvimento ecológico das crianças e dos jovens.
Um caso de Bullying
Foram integradas na mesma turma duas irmãs gémeas e uma outra aluna de etnia cigana vida de uma outra escola do 1.º ciclo, desde o inicio do ano que estas alunas tem tido um comportamento pouco correcto. Marcado pelo absentismo, mau comportamento, baixo rendimento escolar, falta de regras, entre outras.
Várias têm sido as medidas implantadas para conseguir minorar este tipo de comportamento, desde o trabalho desenvolvido pelo director de turma, os contactos com a família, o envolvimento do conselho executivo, de toda a comunidade escolar, nomeadamente auxiliares. Elaborou-se um programa tutorial para as alunas, que também não surtiu os resultados esperados.
A integração na turma de uma outra aluna, transferida, de etnia cigana veio aumentar ainda mais os comportamentos negativos. As quatro alunas passaram a andar sempre juntas e começaram a ter atitudes de bullying sobre outros alunos da escola, particularmente os mais novos.
Na fila do refeitório intimidavam outros alunos para passarem à frente.
Por vezes abordavam grupos de alunos para lhes exigirem pastilhas, bebidas ou comida.
Noutras situações tentavam intimidar alunos exigindo que estes lhes dessem outros objectos pessoais.
Às vezes valiam-se apenas do facto de serem um grupo e das colegas de etnia cigana para intimidar e assustar.
Outra atitude utilizada era a de causar perturbação, agredir verbalmente os outros, gozarem com alunos que achavam mais frágeis, entre as muitas utilizadas.
Na maioria das situações, houve sempre a intervenção pronta de professores ou funcionários, uma vez que as alunas eram sistematicamente vigiadas, desde que entravam na escola até que saíam.
Às alunas foram aplicadas medidas disciplinares e correctivas desde repreensões, suspensões até trabalho cívico.
Tem sido desenvolvido na escola ao longo do ano um projecto sobre o bullying com a parceria do Unidade de Cuidados Funcionais da Criança e do Adolescente da Figueira da Foz (UCFCAFF), tendo sido implementadas várias acções, sessões de discussão e esclarecimento e formação de mediadores de conflitos.
O bullying é hoje uma realidade à qual a escola tem de estar atenta e encontrar medidas para minimizar essas atitudes e proteger aqueles que eventualmente poderão ser os alvos mais fáceis.
Até porque habitualmente as vítimas de bullying sofrem sozinhas, podendo demorar algum tempo a serem identificadas, sendo muito importante estar atento aos sinais.
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